Aqui na Belas Letras somos convidados a fazer do dia de celebração do aniversário, um momento para tentar algo novo, viver uma primeira vez. Soube da proposta logo nos meus primeiros dias e, desde então, penso com muito carinho em como fazer jus a esse convite.
Como grande parte das pessoas, imagino, ao ser questionada quanto ao que ainda não fiz, elegi, primeiro, as coisas mirabolantes e aventureiras: salto de paraquedas, rafting, bungee jump, cortes de cabelo exóticos, tatuagens grandes, mochilões para lugares distantes. Sempre me vejo refém desses extremos imaginados, de imediato. Eu precisaria de uma dose enorme de coragem para realizar algumas dessas ideias, e ainda pretendo, um dia, dar vazão a elas, mas decidi, por fim, fugir um pouco ao óbvio de mim. Por mais legal que soasse uma tarde, assim, tão diferente, fiquei pensando muito sobre o que pretendo com os próximos anos. Propósito: essa palavra de 9 letrinhas que sabe nos dar um baile. A foto ali em cima foi o primeiro registro do meu dia; não foi combinado, mas está alinhado com tudo que veio com a celebração deste aniversário: um penso intenso sobre futuro – o meu e a diferença que quero fazer o tempo que me foi concedido.
Aqui na editora, temos o programa Compre 1, doe 1, em que você adquire um livro na loja e recebe outro para compartilhar com amigos, familiares ou colegas, conforme preferir. Pensando em propósito, foi impossível não me inspirar nessa inciativa e, então, tornar o meu dia 01 um espelho dela: para cada ação, uma doação.
Começou cedinho, com o café da manhã. O meu, tomei na companhia da minha mãe e do meu irmão, que faz aniversário no mesmo dia. A doação começou em seguida, com a entrega de sanduíches pelo Centro de Porto Alegre. Tive uma consulta médica logo depois, e daí, segui até o REDOME, para realizar o meu cadastro como doadora de medula óssea. Para o almoço, minha mãe escolheu o lugar de que mais gosta – um buffet sensacional, em especial para vegetarianos, como eu. No retorno, após deixa-la no trabalho, foi a vez de doar algumas marmitas.
À tarde, caminhei com uma sacola de livros, disposta a encontrar novos leitores para abriga-los. Foram 22, ao todo, para combinar com o dia. Em cada entrega, uma conversa: tomei uns minutos de cada pessoa, para explicar a razão da doação e, então, elas tomaram uns minutos para me contar de si, do que leem, do que não leem e do que pretendiam com o livro que receberam. Transpostas as barreiras iniciais – e naturais, inevitáveis diante da surpresa de serem abordadas por alguém presenteando estranhos com livros -, foram momentos muito preciosos! No início da noite, pouco antes de encontrar a minha família para fecharmos o dia, ocorreu o momento da última doação: compras de supermercado para uma família que conheci na Andradas.
Eu já havia feito doações pontuais antes, mas nunca tinha tirado um dia inteiro para doar de acordo com o todo que recebo. Foi importante viver essa experiência para reforçar pontos básicos, que saem do campo de visão cotidiano com enorme facilidade:
- todos os momentos são grandes presentes,
- já temos tanto, todos os dias, e
- fazer pelo próximo é fazer por nós mesmos, sempre.
Sinto que banalizamos muito a palavra gratidão e, por isso, não comecei este relato com ela, mas me vejo incapaz de termina-lo sem adicioná-la: afinal, como viver um dia de tantas trocas sem agradecer?
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